terça-feira, 15 de março de 2016

Malvada vida


Ainda não consigo acreditar, não, não sou uma grande admiradora deste senhor... mas a ideia que tenho dele é mesmo esta: Senhor! Um senhor que deu muito a Portugal que fez crescer a industria televisiva, cinematográfica... Há pessoas que são eternas e ele há-de ser uma dessas pessoas. Partiu demasiado cedo e sem aviso. Obrigada Nico por tantos papeis, por tantos serões... 

Diogo Morgado disse tudo e eu subscrevo aqui a bonita homenagem que este, entre muitos outros lhe quiseram deixar:


"Partiu... e de que maneira. 

Quero falar não daquilo que me uniu ao homem mas daquilo que o homem uniu. Hoje... partiu, mas há anos que ele anda a partir as amarras que nos impedem de andar para a frente, a quebrar as barreiras do medo e da nossa pequenez, a empurrar-nos a acreditar, a quebrar preconceitos e estereótipos a fazer-nos dar valor, a sonhar...Começou como tenor de ópera, tropeçou no teatro, onde cresceu e se formou como actor. Na altura a única televisão digna para um actor era o teatro televisionado. 
Mas ele viu mais, viu para além das nossas aparentes limitações e acreditou. Chamou uns quantos comparsas para pela primeira vez se fazer aquilo que só se julgava ser possível lá fora. Drama televisivo de longo formato. Chamaram-no de louco e sonhador, ao qual ele agradeceu o elogio, sorrindo, mas acima de tudo... fazendo. 
Onde morrera sempre a diferença dos que discutem, criticam e analisam e dos que fazem. Ele fez, e voltou a fazer vezes sem conta. 
Aquilo que é hoje em Portugal um mercado de reconhecido prestígio internacional, foi uma vez, apenas um sonho acreditado na cabeça de um homem grande, com alma de puto. 
Daqueles putos que quando não sabem o que dizer conta uma história... e que histórias... tantas e tão vividas e tão celebradas e acima de tudo tão partilhadas por ti.
Partiu... Partiu o preconceito da aparente dividida comédia / tragédia, fazendo-nos rir durante anos com todas as suas peças, sketches, séries e revistas, apenas para mergulhar de seguida no mais intenso dos dramas e expor as suas fragilidades em personagens tão sérios e reais como os seus sonhos, em tantos filmes que nos presenteou. Partiu... Partiu a barreira da idade. Aquele gigante com olhar de puto foi protagonista toda a vida, fosse em novela, filme ou teatro. Nunca deixou que a idade lhe tirasse o nervo, e com 70 anos continuava a ser protagonista de onde entrava. 
Tal como todos os grandes, não era perfeito, não era fã de trabalho, nem do frio, nem de tristezas ou lamúrias... Dessem-lhe abraços, o Alentejo, gargalhadas e histórias numa farta mesa e tinham o Nico no pico do mundo.
O Nico era nosso, era dos nossos, éramos nós. Partiu... mas desta vez dói."

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